terça-feira, 2 de abril de 2013

De noite na cama eu fico pensando

Hoje eu tive um sonho longe e acordei assustada pra ver se você estava do meu lado na cama. Estava. Me deu um alivio rápido e fechei os olhos novamente. Por uns segundos acho que sorri e te olhei mais uma vez antes de voltar a sonhar. 

É fácil quase sempre que você está do meu lado. Mas quando não, a cama fica grande demais. Eu gosto dela grande demais, ou gostava. Agora parece que falta eu sem você. Parece que o sono demora porque fica esperando do seu "Boa noite" antes de vir. E sem essas duas palavras agora fica mai difícil dormir. Sonhar. 

Fica mais difícil sonhar sem você, é isso.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Por onde for quero ser seu par

Você me olha no olho e diz: você é mesmo muito bonita. Eu escancaro felicidade, tentando inutilmente disfarçar um pouco o sorriso gigante que aumenta ainda mais esse buraco na minha bochecha que você tanto adora. Aí, felicidade escancarada, você olha mais uma vez e diz: muito bonita. Não sei responder, como se responde reciprocidade? Te abraço, te aperto, te olho tentando dizer que não há nada a se dizer quando já se está tudo tão dito. Aí, por não saber o que dizer eu passo a mão no seu cabelo, que eu possivelmente gosto mais que você, olho tua sobrancelha fina e tua boca grande, iguais as minhas, penso, enquanto me dou conta que gosto de tudo de um jeito tão meu, que não sei como consegui viver tanto tempo sem. Você percebe, acho, a cara de felicidade escancarada e ri, orgulhoso. Eu só queria estar onde estou. E esse lugar, hoje, poderia ser qualquer um, desde que você estivesse também.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Mudaram as estações, nada mudou

Seis meses depois ela bateu na minha porta com o mesmo vestido, mas sem a maquiagem se desfazendo no canto do olho, óculos de grau, sacola de compras na mão. "É pra janta", ela disse, enquanto ia tirando do saco plástico o arroz, o presunto, o pão francês - meio comido já. "É mania de criança, ia mastigando o pão quentinho a caminho de casa", ela riu e a covinha apareceu.

Me apaixonei de novo, era vida real.

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Eu até poderia poetizar e dizer que é de nervoso que ele morde o lábio, mas é só quando o bigode incomoda. Ou talvez, uma vez ou outra, por impaciência. E quando abriu a porta aquele dia, seis meses depois, ele mordeu. Será que demorei demais? Mas logo depois ele riu, aquele sorriso aberto, e elogiou o vestido: tá colorida - será que ele lembrou?. Me abraçou por trás enquanto eu ia tirando tudo da sacola, me explicando, sei lá por que, falando coisas sem sentido, lembrando da infância. Ele riu de novo, dessa vez aquele riso de bobo, que eu adoro.

Me apaixonei de novo, era vida real.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Ai de mim que sou romântica

Eu não digo que é medo. É só uma angústia desesperada dessa felicidade acabar, dessa paixão acabar, da vida toda acabar porque, de repente, você não me quer mais tanto assim. Não digo que é medo, e nem é mesmo. Porque eu sou forte, não tenho medo dessas bobagens de coração, aprendi nessa vida e sei que o amor é balela. Eu não digo que é medo, é só precaução. Tô me prevenindo, sabe? Tinha esquecido como era essa coisa de se entregar, de chorar fora de hora, de ficar insegura por nada. Mas passa, não é medo, não mesmo. É só um estranhamento de tanta necessidade, de tanta dependência: como era antes de você aparecer? Parece que tem mil anos e eu esqueci tudo. Esqueci como é ser só. Esqueci como é dormir sem boa noite. Antes eu achava que não precisava de boa noite e aí você apareceu com bom dia, café na cama, cafuné e bons sonhos. E eu desaprendi a não ter. Mas juro, não é medo. Eu sou forte, não sou dessas românticas que acreditam no pra sempre, no eterno, em planos, em futuro, eu não. Sou pé no chão, sabe? Não sofro. Sei que tudo acaba um dia, é tudo cíclico. A paixão, já me disseram, dura só sete meses, que nem doença que a gente toma remédio e passa. Por isso que eu digo, não é medo. Não tô esperando nada de ninguém. Sei me virar sozinha, não acredita? É que você apareceu e eu esqueci, mas já já me lembro, já já essa angústia vai embora, você vai ver. Eu não sou de chorar, de esperar, de acreditar, nada disso.

Não é bem medo, sabe, é só um susto, vai passar. Mas, por via das dúvidas, você me protege?

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

O amor precisa de sorte

Tô precisando de um amor recíproco. Tô precisando de sorte. De querer as pessoas certas, de ficar com a parte boa da paixão, de ser feliz e não só intensa. Tô precisando voltar a acreditar nas pessoas. Tô precisando me entregar sem medo, precisando amar mais e brigar menos, tô precisando entender. Entender as pessoas às vezes dá certo, sabia? Tô precisando ser entendida também, precisando de cafuné, de olho no olho, de massagem no pé. Tô precisando de alguém que saiba que eu espirro sempre duas vezes seguidas, e não uma, nem três. Que saiba o tamanho do meu pé, a minha loja preferida, o nome das minhas gatas. Tô precisando de alguém que saiba meu telefone de cabeça, sabe?

Tô precisando de um amor recíproco. De alguém que diga que vá me ligar e eu tenha certeza, absoluta, de que sim, ele vai ligar. Tô precisando de alguém que saiba o que eu quero dizer, mesmo sem eu dizer, de alguém que escute minha música preferida e lembre de mim, de alguém que me ligue pra contar como foi o dia. Tô precisando, sabe? De alguém que me leve comida na cama, que cuide de mim quando a bebedeira bater forte, que me faça rir. Porque no fundo, lá no fundo, o amor recíproco é só isso, alguém que te faça rir. É só isso que eu preciso, mais nada.

Pode ser você?

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Tempo, tempo, tempo, tempo

Olhou, olhou, olhou. Já tinha olhado tantas vezes naqueles 40 minutos e mesmo assim não se convenceu. Testou o sinal, testou a altura da campainha. Ligou pra amiga, conversaram sobre amenidades, acendeu um cigarro. Olhou, olhou, olhou. Mais quarenta minutos, o mesmo visor preto, sem sinal de resposta. A luz acende, mensagem da operadora. O telefone toca, ligação do chefe. Olhou, olhou, olhou. A amiga que tinha falado de amenidades resolve ligar de novo. O coração se apressa. À toa.

Mais 40 minutos e ela quase desiste. Não pode ser em tão pouco tempo que a gente surta. Outro cigarro, água, café, esquenta o pão. Olhou o relógio, olhou o visor, outra vez. Olhou, olhou, olhou. Silêncio maldito de dentro, que não passa, que não anda. Dá até pra escutar o coração quase.

E aí, então, ele toca. Ela atende, fingindo pouca pressa. É a voz certa. O sorriso deixa de caber na cara. Valeu cada minuto da espera. 

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O destino sempre me quis só

"Solitária. É isso que eu vejo. Solidão". Foi a mãe dela quem deu o veredito final, mas poderia ter sido ela mesma. O reflexo era óbvio, mas a gente demora a enxergar o óbvio e ainda mais ela, que ficava sempre naquela eterna e insana busca das qualidades das pessoas. Mas ela agora olhava de novo o reflexo, e era tão óbvia aquela solidão. Ela pensava no começo que era por medo, trauma, fuga. Mas não. Era solidão de quem afasta as pessoas. Era solidão pensada, desejada. Até, será que podia julgar?, merecida. E tem gente que merece solidão?, ela pensou enquanto voltava no tempo buscando em cada retalho um motivo pra tanta raiva. Não achou.

Solidária, ela tentou afastar a solidão. Tentou abrir portas e janelas, mostrar a luz do sol, tentou ensinar que tem sempre um arco íris depois da tempestade. Tentou mostrar uma vida menos amarga, não que ela não fosse também um pouquinho amarga - todo mundo que já passou por essa vida herda um pouco de amargura - mas a capa de chuva já era impermeável. Não entrava mais sol. Não entrava carinho. Não entrava amor. Era só solidão e chuva e desespero e raiva. Tudo por dentro da capa de chuva colorida, que até fazia as pessoas acharem graça no começo. Mas dentro, lá no fundo, era só chuva e solidão.

Porque nem todo mundo está pronto pra ser feliz.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Ela é minha menina

Primeiro ela olhou e não viu nada. Mentira, gostou do papo. Ou da voz, não lembrava bem. Depois ela olhou de novo, e viu um sorriso aberto. Gostou disso. E da gargalhada que vinha sempre depois.  Na terceira vez, ela olhou mais atenta, viu gostos em comum, mais do que ela tinha pensado. E foi gostando disso também. Aí, quando se deu conta, já tinha pele, cheiro, toque, essas coisas inexplicáveis. E ela começou a ver tanta coisa, e cada dia descobria uma nova, assim, sem pressa, como  as descobertas boas devem ser. Olhou de novo, e de repente o olhar era igual, aquele olhar íntimo de duas pessoas que se descobrem e se perguntam, como a gente demorou tanto tempo pra se achar?

E quando ela se deu conta, já era. Dele. E ele dela.

sábado, 22 de outubro de 2011

Pro dia nascer feliz

Ela tinha esquecido. Do cheiro reconhecido sempre no mesmo pescoço. Daquele olhar cúmplice fora de hora. De como era bom ter seu lado da cama. Tinha esquecido da delícia de ser bem cuidada - ela e aquela velha mania de querer só cuidar. Ela tinha esquecido. De como podia sorrir por dentro só de ouvir uma voz. De como era bom escutar uma música sendo cantada ao pé do ouvido. Ela tinha esquecido de como é gostoso sentir saudade antes mesmo de se despedir. Tinha esquecido, aliás, de como é difícil sair de um abraço de despedida. Tinha esquecido de como é a boa aquela cosquinha que não tem nome, aquele frio na barriga quando o telefone toca. Ela tinha esquecido de como é sonhar com alguém e acordar com ele na cama. Ela tinha esquecido da delícia de se beijar sempre a mesma boca, cada dia de um jeito diferente. Ela tinha esquecido de como é bom ouvir aquilo que se está pensando em dizer. Ela tinha esquecido tudo isso.

Aí ele apareceu. E ela lembrou.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Ella es bonita

Tá bom, eu sei que ela te faz bem. Sei que você gosta do sorriso dela mais do que gosta do meu, sei que ela é mais maleável, menos histérica. Sei que ela é inteligente, eu sei. O vestido cai melhor nela, ela nunca deve ter tido crise de pânico, e aposto que cozinha bem. Tá bom, eu sei que ela deixa você com essa cara de babão, com essa sensação de paz de espírito que eu nunca te dei. Sei que você admira a liberdade dela, sei que ela é independente e morava sozinha há anos, não tinha problemas no banco, nem dívidas no cartão. Tá bom, eu sei ela não te liga de madrugada aos prantos, sem motivo algum, sei que ela é contida, eu sei. Sei que ela exala segurança de longe, que ela é educada com seus amigos, que sua mãe adora ela. Sei que ela não chora.

Mas eu achava que a gente daria certo. Que era uma questão de tempo. Que a gente ia se entender, que você ia desistir do seu casamento e ficar comigo. Eu achava, como a maioria das outras acha, daquele jeito bobo de pensar que o amor cura as pessoas, sabe? Eu achava que como você não tinha filhos, que como você era tão ciumento, que como a gente se dava tão bem na cama e fora dela... Eu achava. Provavelmente você também achava que a gente daria certo, que eu iria mudar, que eu não iria mentir mais pra você, que eu iria deixar de fumar, de beber tanto e fazer escândalo na rua. Você achava que eu tinha jeito, mas daquele seu jeito de achar ingênuo de que toda mulher um dia vai virar mãe e dona-de-casa.

E eu sei que ela vai ser uma ótima mãe e dona-de-casa. Sei que ela vai  largar o emprego perfeito pra mudar de cidade quando você for promovido. Sei que ela vai saber se comportar na reunião da escola. Eu sei. Sei que ela  não fuma escondido quando fica nervosa que o telefone não toca. Sei que ela se cuida, faz cabelo, unha, pilates. Eu sei que ela finge que não sabe da gente. Sei que ela aceita te dividir porque te ama mais que tudo, eu sei. Sei que ela nunca te largaria, nem por mim, nem por ela. Sei que ela  aceita bem suas mentiras, sei que ela acredita em você, eu sei.

No fundo eu sei. Ela é mais fraca que eu. Ela te merece.